Agronegócio corre risco de gargalo logístico nos próximos anos, diz estudo

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O agronegócio brasileiro poderá viver um pagamento logístico nos próximos anos à medida que a capacidade dos terminais graneleiros dos portos se aproximar da demanda crescente de exportação de commodities. É o que aponta um estudo feito pela Macroinfra, consultoria especializada em infraestrutura e logística.
Outro desafio, segundo o levantamento, é a falta de diversificação dos modais usados para escoar os grãos produzidos no interior do país, cujo transporte até os portos ainda é muito dependente de rodovias.
Segundo o levantamento, hoje mais de 91% da capacidade portuária brasileira para exportação de grãos agrícolas já está em uso, um patamar acima do limite que garante uma operação eficiente, estimada pelo setor em cerca de 85%. Os números consideram a demanda de exportação de grãos como soja, milho e trigo, mais de milho.
A capacidade instalada até o final de 2023 chega a 203,24 milhões de toneladas. Em 2028, esse número deverá subir para 238,9 milhões, mas a demanda esperada alcançará 268,1 milhões, em cinco anos.
O levantamento foi feito a partir de dados do Plano Nacional de Logística, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Ex-Macro Logística, a Macroinfra presta serviços para clientes como BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Confederação Nacional da Indústria e Vale.
O estudo destaca 15 potenciais corredores logísticos que podem ajudar a ampliar a capacidade de escoamento de grãos nos próximos anos, como ferrovias, hidrovias e portos. As promessas incluem, por exemplo, a ampliação do STS11, terminal graneleiro na margem direita do complexo portuário de Santos, utilizado para movimentação e armazenamento de graneis vegetais.
A chinesa Cofco arrendou uma área de R$ 80 milhões em 2022. A empresa vai explorar o terminal por 35 anos, com possibilidade de prorrogações de limite de área. Segundo a Autoridade Portuária de Santos, o STS11 consolidará o planejamento de descentralização (organização) do porto e triplicará a capacidade de escoamento de vegetais.
“À Cofco tem um coração do porto de Santos que conecta produção agrícola e escoamento direto para a China. Em cinco anos, a empresa poderá triplicar sua capacidade”, diz um analista especializado em transporte portuário e rodoviário.
Ainda de acordo com a Macroinfra, o modal rodoviário representa cerca de 90% da movimentação de graneis agrícolas no Brasil, apesar de ser uma alternativa cara. A integração com ferrovias e hidrovias ainda é limitada. “O caminhão tem um custo muito, muito mais elevado do que outras alternativas, diz Oliver Girard, da consultoria.
Ele afirma ser importante equilibrar os modais e resolver o problema de custo, que, segundo ele, pode ser um dos principais entraves para a expansão da produção nacional.
José dos Santos da Silva, diretor-presidente da ABTP (Associação Brasileira dos Terminais Portuários), considera que essa situação cria um verdadeiro “gargalo logístico” no Brasil e diz que as empresas devem se preparar para os desafios.
“Se não houver uma mudança estrutural, com mais investimento em infraestrutura, teremos um colapso no sistema de exportação de grãos, principalmente se a demanda continuar aumentando como esperamos.”
Ele conclui que o desenvolvimento logístico do país é essencial e que “o momento é estratégico e urgente: precisamos investir em estrutura e criar oportunidades”, afirma.
Agrofolha – Paulo Ricardo Martins